“A concepção capitalista do esporte é fundamentalmente diferente daquela que deveria existir num país subdesenvolvido. O homem político africano não deve preocupar-se em fazer esportistas, mas homens conscientes que podem também ser esportistas. Se o
esporte não se integrar na vida nacional, isto é, na construção nacional, se formarmos esportistas nacionais e não homens conscientes, então, em breve assistiremos ao apodrecimento do esporte provocado pelo profissionalismo, pelo comercialismo. O esporte não deve ser um jogo, uma distração oferecida à burguesia das cidades. A maior tarefa é compreender a todo momento o que se passa entre nós. Não devemos cultivar o excepcional, procurar o herói, outra forma do líder. Devemos erguer o povo, engrandecer o cérebro do povo, enriquecê-lo, diferenciá-lo, torná-lo humano” – Frantz Fanon (Os Condenados da Terra).
A denúncia da precarização da política de esporte e lazer no Brasil data do final dos anos 1980, imediatamente após o nascimento da Constituição Federal. Assim como o campo da Saúde e da Educação, a política de Esporte e Lazer começou a passar por um acelerado empobrecimento de concepção e terceirização da política redistributiva. Problema que seria levado às últimas consequências durante as políticas de preparação das cidades sedes da Copa e Jogos Olímpicos.
Embora o tema não se restrinja à preocupação com a juventude, é justamente os filhos da classe trabalhadora que imadiatamente sofrem com as consequências da ausência de alternativas públicas de prática corporal e lazer, depositanto nos ambientes virtuais toda espectativa de socialização e autoformação.
A gravidade do problema fica ainda mais evidente quando observamos uma participação muito tímida das esquedas nos fóruns e comissões parlamentares sobre a política de esporte e lazer. Majoritariamente ocupado pela direita, extrema direita, neopentecostais e militares, esses espaços acabam se tornando bases de articulação orgânica dos grupos mensionados acima, que acabam se servindo das políticas públicas existentes para dar corpo às suas estratégias de proto-campanha eleitoral.
Não será preciso elencar aqui os diferentes problemas que os filhos da classe trabalhadora enfrentam como resultado da (não) política de esporte e lazer e da pobreza de concepção que impera nas políticas existentes. Também não será esta a ocasião para fazer imersões e mapeamentos sobre as possibilidades e limites da política de esporte e lazer no atual governo de coalizão.
Penso que o papel do partido e, em especial, da Primavera Socialista, é dar corpo à ocupação desses espaços visando disputar a sua concepção, servindo-se imediatamente dos nossos parlamentares e, na medida do possível, contando com a militância na participação em conselhos e fóruns municipais, estaduais e federal de esporte e lazer.
Esse movimento poderá municiar o partido de maneira que possa disputar não só o quantitativo orçamentário, mas o qualitativo de uma política de esporte e lazer que, conforme previu Fanon, apodrece por se encontrar refém da mercadorização e das concepções salvacionistas burguesas.
Em última análise, penso que a qualidade da aproximação do partido à juventude passa necessariamente pela forma como conceberemos a política de esporte e lazer a partir de agora, tendo em vista que a ocupação dos fóruns (em si) não é suficiente, se não conseguimos nos distinguir da concepção de política vigente. Percebo que isso esteja muito claro para a direita e extrema direita, uma vez que não abrem mão dos campos de disputa cultural.
Certo de que nossa corrente não trabalha com escalas de preponderância que colocam o esporte e o lazer em segundo plano e que precisamos levar em conta a materialidade e os espaços onde repousa nossa prioridade de combate ao bolsonarismo, convido à militáncia interessada à constituirmos ou fortalecermos o(s) fórum(ns) de debate sobre a política de esporte e lazer, integrando nele as subculturas urbanas e práticas de criação/identidade nacional historicamente negligenciadas. Sistemas que, segundo Fanon, deveriam ser concebidos como plataformas que nos permitem perceber a todo instante o que se passa entre nós.
Ouso dizer: esses espaços guardam potencialidades de conspiração contra-hegemônica que, por enquanto – e por diferentes razões as quais não é possível ignorar – têm sido desperdiçados pelo nosso campo.
Em suma, precisamos disputar as políticas de esporte e lazer desde a sua estrutura orçamentária e redistributiva à sua concepção, munidos das mais desalienantes categorias e expectativas de fututo.
Link da situação mais geral da política de esporte e lazer: http://www.transparencianoesporte.unb.br/#/inicio
O déficit de disputa ideológica no esporte por parte da esquerda é um problema real, abrindo espaço para influência nefasta de militares, organizações de proselitismo religioso e o discurso da meritocracia ultraliberal. Todos esses negam o esforço coletivo para formação de atletas de alto rendimento, mas ainda pior: nega o acesso ao esporte e lazer para a população de forma organizada pelo ente público, o Estado. Importante iniciativa do chamado ao estabelecimento de fórum de debate interno e de participação em órgãos da sociedade, no sentido de organizar uma disputa em alto nível de uma política pública de importância fundamental, tanto material quanto subjetivamente na disputa ideológica atual, centro da luta de classes em nosso tempo.
Obrigado, companheiro!
De pleno acordo contigo, entendendo que, no que toca a questão da política de esporte e lazer, temos que imediatamente dar corpo a pelo menos três tarefas: (1) disputar (à esquerda) os espaços de deliberação (conselhos, comissões, plenárias, etc) contra a hegemonia da direita, neoliberais e proselitismo evangélico, (2) Constituir um fórum (psolista) de debate de <> capaz de pautar e municiar a ação dos nossos parlamentares; (3) penso que a Primavera Socialista pode protagonizar uma virada histórica no tratamento qualitativo desta pauta, colocando na ordem do dia a luta contra o bolsonarismo via disputa cultural. Estou à disposição para inciarmos ou compor com fóruns já constituídos. Contato/WhatsApp: (11) 965115050.
*Digo: Fórum de debate de concepção capaz de…