“Por que nos causa desconforto a sensação de estar caindo?
A gente não fez outra coisa nos últimos tempos senão despencar.
Cair, cair, cair. Então por que estamos grilados agora com a queda?
Vamos aproveitar toda a nossa capacidade crítica
e criativa para construir paraquedas coloridos.
Vamos pensar no espaço não como um lugar confinado,
mas como o cosmos onde a gente pode
despencar em paraquedas coloridos.”
Ailton Krenak.
1 – A juventude em crise: um retrato da década marcada por instabilidade
econômica, social e política.
Somos o partido com número massivo de jovens filiados/as/es, de uma frente
de juventudes pautadas pelo ecossocialismo, anticapitalismo, feminismo e
antirracismo. Queremos recuperar o presente, por meio de uma transformação
estrutural da sociedade, tendo como horizonte a revolução brasileira rumo ao
socialismo.
Os últimos anos de conjuntura brasileira são cenários de grande retrocesso
aos direitos do povo, vivemos a fragilização das leis trabalhistas, o desmonte da
previdência social, o sucateamento da educação com os cortes nas universidades, o
retrocesso do novo ensino médio, o avanço de ideais racistas, misóginos,
LGBTfóbicos e talvez, o mais grave: a candidatura desses ideais nas fileiras da
política institucional. Essa política neoliberal de agenda regressiva e anti-direitos
disputa e afeta sobretudo a juventude, nesse montante, é retirado da juventude o
direito de sonhar, tal cenário retrata a selvagem forma em que a política fascista
opera com a sociedade, se nossas perspectivas de vida eram sustentadas ainda
que com limitações, através do acesso à educação e perspectivas de emprego, hoje
a juventude não tem tempo de vislumbrar seu futuro comprometido com os
retrocessos da política brasileira dos últimos anos. Nossa juventude luta todos os
dias para sobreviver da fome, das polícias, dos cidadãos de bem, do adoecimento e
de todo um aglomerado de políticas que projetam para a juventude, sobretudo
aquelas com marcadores sociais indesejados da agenda fascista; jovens negros, indígenas e periféricos, um lugar desumanização e exploração. Nada mais eficiente
para essa política que o projeto de impossibilitar a juventude de sonhar e agir.
Mesmo sob tantos ataques dos últimos anos, com ênfase durante o derrotado
desgoverno Bolsonaro, a juventude protagonizou as maiores mobilizações contra o
retrocesso de nossos direitos, a favor da educação, da Amazônia, contra o
genocídio da juventude negra e indígena, contra o marco temporal, assim como foi a
ponta de lança da para a derrota de Bolsonaro nas urnas, com a participação ativa
dos movimentos de juventude que compõem as fileiras do PSOL, garantindo a
eleição de Lula.
Somos base do governo que ajudamos eleger nas urnas e atualmente temos
como desafio o enfrentamento contra a extrema-direita. O resultado dos conselhos
tutelares indica recentemente o quanto a extrema-direita está organizada e com uma
base consolidada com grande eficiência nas disputas de espaços. Apesar disso,
também compreendendo as limitações do governo Lula temos como desafio a
disputa e enfrentamento dentro desse governo, recentemente são vários retrocessos
que atravessam a juventude brasileira, destaca-se três: 1) a privatização dos
presídios, vale salientar que a juventude representa cerca de 41,1% da população
encarcerada no Brasil e 68,86% da população prisional são pretos, pardos e
indígena, sendo as prisões um operador do racismo no Brasil; 2) a não revogação
do novo ensino médio que formará ao menos três gerações de estudantes com base
em um modelo de educação que reduz as disciplinas de humanas e aumenta a
grade curricular voltado para um modelo de educação tecnicista, reduzindo a
possibilidade de senso crítico da juventude; 3) investimento do governo federal em
mais R$ 500 milhões de reais nas comunidades terapêuticas em nome da política
antidrogas que é a mesma que encarcera e assassinada jovens brasileiros.
2 – O PSOL e a juventude.
É inegável a capacidade de diálogo do PSOL com a juventude brasileira.
Desde o início, nosso partido tem em seu DNA a pungência e a radicalidade,
atributos esses responsáveis por despertar na juventude a necessidade de
organizar-se politicamente.
Mesmo após o amadurecimento que nosso partido passou nos últimos anos,
que consolidou uma identidade mais responsável e aberto ao diálogo – e diluiu
aquele semblante sectário e inconsequente -, a juventude continua a ver o partido como uma alternativa à esquerda e ferramenta importante na transformação da
realidade do povo. E essa jovialidade do PSOL é refletida em suas figuras, que
mesmo com diferentes idades e experiências no parlamento, conseguiram construir
uma “forma PSOL” de fazer política.
Todavia, a Primavera Socialista enfrenta dificuldades para se conectar com
essa juventude que enxerga no PSOL uma ferramenta de transformação do mundo.
Ora, se o PSOL é um partido com muita influência na juventude brasileira, e se isso
se concretiza a partir da linha política acertada do partido, que com toda a
franqueza, é fruto do acúmulo e da capacidade política desta corrente, o que explica
não conseguirmos nos conectar com esses mesmos jovens? Acertamos na linha
política do partido, acertamos em tornar o PSOL um partido atrativo para juventude,
mas na hora de atrair esses jovens para a corrente, acabamos falhando.
E podemos considerar o motivo dessa falha, o fato de nossa organização não
ter um projeto para a juventude.
3 – Os desafios e as tarefas da Juventude da Primavera Socialista.
Os desafios da Primavera Socialista são, por extensão, os desafios da sua
juventude. Nesse sentido, construir o PSOL, ao mesmo tempo em que lidamos com
um processo de reorganização da esquerda e os giros da conjuntura vistos nos
últimos anos, são elementos que atravessam diretamente o nosso desenvolvimento.
Sobre nossas tarefas, elas são produto das necessidades históricas da organização,
uma vez que organizamos a coluna de quadros conforme os desafios postos.
Desde o surgimento da Primavera Socialista, apesar do indicativo de
construção nos movimentos sociais através das setoriais e frentes de massas, as
tarefas internas da disputa e organização do partido se tornaram a prioridade
central. Decisão que avaliamos como acertada, pois reafirmou o espaço da nossa
corrente na correlação interna e intensificou nossa incidência na formulação política
do PSOL, que resultou nos acertos na condução que tivemos nos últimos anos, mas
que também teve como consequência um não avanço da nossa atuação social. A
não consolidação de um modelo orgânico de nossa corrente também impacta na
condução dessa tarefa fundamental de desenvolver o trabalho de base e
organização da juventude, seja por não envolver esse setor no debate de
formulação e direção política, ou pela não priorização em construir essa tarefa por
quadros jovens existentes nos estados. Um importante atestado desse elemento é que em uma parcela grande de estados em que nossa corrente tem presença,
alguns fortes e de massas, não possuímos a consolidação de nosso setorial, ou
quando possuímos, é de maneira tímida.
Mesmo diante desse cenário, conseguimos manter um corpo dirigente em
nossa setorial, bem como na nossa frente de massas, a Juventude Manifesta, que
se expressa em uma importante territorialização nos estados em que temos mais
retaguarda política e em uma forte presença de quadros jovens nas instâncias
partidárias. Somos um importante setor na condução do nosso campo político, a
Juventude Sem Medo, e temos uma boa entrada nas articulações da UNE e atuação
transversal em diferentes frentes sociais. Retaguarda, como citado, é um eixo
fundamental para gerar condições necessárias para o desenvolvimento do nosso
trabalho coletivo.
Para dar conta dos desafios que atravessam a nossa organização, acreditamos
que temos como caminho repensar a forma que lidamos com essa construção,
definindo objetivos segundo nossas demandas concretas, bem como construir um
processo profundo de formação de quadros com nossa juventude, pensando a
renovação desse corpo dirigente e o envolvimento das referências que hoje se
encontram dispersas no interior da nossa corrente. A realização do 1º Ativo da
Juventude da Primavera Socialista também se faz necessária, para que
coletivamente possamos avançar no fortalecimento de mais organicidade e
consolidação de uma cultura política.
4 – Primavera Socialista e Revolução Solidária: como uma possível fusão
afetaria a juventude?
O encontro nacional da Primavera Socialista é um espaço de suma importância
para a nossa militância finalmente debater temas estruturais da organização,
entretanto, o debate sobre uma possível fusão com a Revolução Solidária é um
assunto incontornável para todos nós. Nesse sentido, o conjunto da Juventude da
Primavera Socialista avalia que tem condições de participar efetivamente desse
debate. É importante ressaltar que a fusão tem impacto diferente para “As
Juventudes”.
Para o setorial de Juventude da Primavera Socialista, conjunto de jovens
organizados na corrente, a fusão deve ser encarada como um movimento onde as
questões envolvendo método organizativo, estratégia política, convergências programáticas e teóricas sejam prioridades absolutas nesse debate e que, se houver
o entendimento das organizações que a fusão é coerente para o avanço da luta dos
trabalhadores do Brasil, ocorra uma verdadeira síntese para a formação de uma
nova organização estruturada em bases sólidas.
Por sua vez, para o coletivo Juventude Manifesta, que atua como frente de
massas em alinhamento com a Primavera Socialista, esse debate tem suas
particularidades. A princípio é natural a percepção de que na eventual fusão, seria
redundante ter dois movimentos de juventude: Manifesta e Fogo no Pavio,
entretanto, a fusão desses coletivos não ocorre de forma automática. Ainda que
esses coletivos sejam politicamente alinhados e com muitas similaridades, é
necessário um novo processo de entendimento político, para que, se for avaliado
como adequada essa “outra fusão”, isso ocorra com uma ampla participação da
militância de Juventude.
Nesse sentido, é fundamental que, caso ocorra um movimento de fusão
Primavera Socialista e Revolução Solidária, leve em consideração que essa possível
nova organização precisa ter um projeto político para a Juventude. E, por fim, a
Juventude da Primavera Socialista se coloca à disposição para participar
efetivamente de todos os processos envolvendo a fusão, com o entendimento de
que nossa contribuição é capaz de qualificar e aprofundar esse debate.
Coordenação Nacional da Juventude da Primavera Socialista.
São Paulo, 15 de dezembro de 2023.