O presidente do PSOL, Juliano Medeiros (PSOL), disse esperar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defenda a revogação das reformas econômicas aprovadas após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
A declaração a CartaCapital, nesta terça-feira 4, ocorreu após o psolista compartilhar no Twitter um texto de Lula sobre educação e propor a derrubada da Emenda Constitucional 95 para viabilizar o financiamento ao setor.
Lula havia publicado em suas redes sociais um artigo de sua autoria veiculado no site do jornal Folha de S. Paulo intitulado “Educação e ciência para reconstruir o Brasil”. No texto, o petista cita o governo da China como exemplo em políticas educacionais e diz que o Brasil sofre retrocesso devido a um “ajuste fiscal irrealista”, mas não chega a defender claramente a revogação do teto de gastos.
No Twitter, Juliano Medeiros comentou o texto:
“Concordo com o ex-presidente Lula. A diminuição do investimento em educação é um crime contra o País promovido pelos defensores da austeridade. Nós do PSOL defendemos a revogação da EC 95 para garantir financiamento adequado à educação, ciência e tecnologia.”
Concordo com o ex-presidente @LulaOficial. A diminuição do investimento em educação é um crime contra o país promovido pelos defensores da austeridade. Nós do @psol50 defendemos a revogação da EC 95 para garantir financiamento adequado à educação, ciência e tecnologia. https://t.co/72nYb0kRKz
— Juliano Medeiros (@julianopsol) January 4, 2022
À reportagem, Medeiros declarou que “a esquerda precisa começar a fazer compromissos claros com o enfrentamento ao establishment financeiro”. Ele reivindica publicamente que os partidos de esquerda façam uma aliança programática em torno da retirada do teto de gastos e de demais medidas adotadas desde o governo de Michel Temer (MDB). Entre as reformas implantadas, estão a trabalhista e a previdenciária.
“Espero que ele [Lula] assuma a defesa da revogação das medidas que retiraram direitos do povo brasileiro após o golpe de 2016”, disse Medeiros a CartaCapital.
A revogação do teto de gastos é uma das principais reivindicações do campo da esquerda na eleição de 2022. Conforme mostrou CartaCapital, no blog Observatório do Banco Central, o impacto do congelamento do piso de saúde já levou à perda de 37 bilhões de reais no orçamento federal do Sistema Único de Saúde desde 2018.
Economistas apontam efeitos negativos no financiamento de investimentos estatais na saúde pública e no estímulo ao consumo da saúde privada, o que pode fazer com que o SUS deixe de atender progressivamente as camadas mais afetadas pela desigualdade socioeconômica.
Lula e o PT já demonstraram oposição ao teto de gastos – o ex-presidente chegou a anunciar objetivamente que revogaria a emenda, durante entrevista à Jovem Pan em julho, e voltou a tocar no assunto em entrevista à Rádio Gaúcha em outubro, por exemplo.
A aproximação do petista com o ex-tucano Geraldo Alckmin, no entanto, tem gerado desconfiança em atores políticos e observadores sobre a manutenção dessa agenda – a aliança já foi chamada de “descabida” pelo presidente do PSOL.
Um tweet de Lula publicado em dezembro chegou a ser interpretado como uma sinalização de afrouxamento em relação à revogação do teto: o ex-presidente escreveu que aprendeu com a mãe “que a gente só deve gastar o que a gente ganha”.
O petista só deve divulgar sua agenda econômica formalmente em agosto, quando estiver no período de registro de candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral.
Eu aprendi economia com a Dona Lindu. Ela era analfabeta, mas sabia contar dinheiro. Os 8 filhos entregavam seus salários para ela. Aprendi com ela que a gente só deve gastar o que a gente ganha. Bem diferente do Guedes: ele quer só vender a Petrobras, a Eletrobras, os Correios.
Fonte: Carta Capital