Se é verdade que, de um lado, a vitória de Lula trouxe sobrevida ao nosso projeto no Brasil, representando um combate importante à extrema-direita e sua utilização da máquina do estado, é verdade também que não tivemos uma vitória completa.
Bolsonaro alcançou cerca de 58 milhões de votos, com apoio forte nos setores de centro, na classe média e apoio militar, tornando evidente que está longe de ser derrotado ou de ser irrelevante nos rumos das disputas sociais.
O dia 8 de janeiro foi uma demonstração de que os radicais bolsonaristas estão dispostos a tudo e que a nossa batalha contra a extrema-direita será muito dura nos próximos anos.
Além disso, ainda que as primeiras semanas tenham sido animadoras com importantes sinalizações à esquerda, que já vinham aparecendo desde a campanha, é importante lembrar que a frente ampla que elegeu Lula traz para dentro do governo as pressões e tensões de interesses antagônicos. É muito provável que essas contradições venham a se aprofundar daqui em diante. Isso exigirá do PSOL muito preparo e sabedoria para decidir quais batalhas deve encampar.
Já em relação ao PSOL, por fim, tomamos a decisão certa de não ter candidatura própria e construir a campanha de Lula desde o 1o turno. Em decorrência disso, saímos maiores do que entramos. Nossa posição é coerente com os rumos que estamos construindo desde o golpe contra Dilma, presidência de Temer e a prisão injusta de Lula.
Nosso crescimento não é apenas numérico, nossa bancada está mais feminista, jovem e diversa e somos o partido do deputado federal de esquerda mais votado do Brasil. Mas a posição no último diretório nacional, cuja decisão é de que o PSOL deve ser apenas base, mas não compor espaços do governo, limitou os espaço de interlocução do PSOL com a sociedade.
Há um estreitamento de espaços independentes ou soltos nessa sociedade ainda profundamente polarizada – como seguimos vendo nesses primeiros dias de governo. Portanto, em decorrência dessa pequena janela de diálogo com a sociedade, que nos restou nesse momento, o tema da escolha das batalhas é fundamental.
Evidentemente que os movimentos sociais, estagnados há alguns anos na posição de defesa e resistência, devem aproveitar o governo progressista para tensionar pelo avanço de suas pautas. E como partido político, o PSOL deve:
- Seguir apostando na campanha “sem anistia”, devemos ser protagonistas na luta contra o bolsonarismo, seu legado e a extrema direita
- Disputar a reforma tributária, sobretudo na taxação dos super ricos
- Ter mais presença nas lutas em torno da justiça climática, defesa da Amazônia, dos povos indígenas e questões ambientais
- Seguir tendo protagonismo na luta contra opressões de gênero, de raça e de orientação sexual e de gênero.
Coordenação Nacional da Primavera Socialista
30 de janeiro de 2023