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Ocupação de imóvel abandonado para acolher mulher vítima de violência desperta a ira da extrema direita. Por Paulo Bufalo

Ocupação de imóvel abandonado por movimento organizado por mulheres levanta debate sobre função da propriedade privada.

Publicado em: 16/05/2023

Atualizado em:16/05/2023

Ocupação de imóvel abandonado para acolher mulher vítima de violência desperta a ira da extrema direita. Por Paulo Bufalo

Ocupação de imóvel abandonado por movimento organizado por mulheres levanta debate sobre função da propriedade privada.

Publicado em: 16/05/2023

Atualizado em:16/05/2023

Por Paulo Bufalo*, publicado originalmente em Carta Campinas

Diante da inação da Prefeitura de Campinas de construir espaços públicos para acolhimento e atendimento de mulheres vítimas de violência, um grupo de mulheres organizadas no Coletivo Olga Benário ocupou, no dia 29 de abril, um imóvel abandonado localizado na rua Delfino Cintra, na área central da cidade. Desde então, elas vêm organizando o espaço “Maria Lúcia Petit Vive!”, tendo realizado corte do mato, limpeza do lixo, remoção de entulho acumulados e eliminação de criadouros de pernilongos e organizando atividades culturais e o atendimento de mulheres no local.

Somente no dia três de maio, quinto dia depois da ocupação, uma pessoa, que se identificou como proprietário do imóvel, apareceu no local fazendo ameaças e proferindo ofensas às mulheres que lá estavam.

Diante das ameaças, este vereador, que se encontrava em seu gabinete, e outros parlamentares de esquerda, apoiadores do movimento e aliados foram acionados pelas lideranças da ocupação para irem até o local.

No pleno exercício de minha sua função parlamentar, me dirigiu até o local, inclusive em viatura oficial da Câmara Municipal de Campinas, para verificar a situação e garantir alguma segurança às ocupantes do imóvel. Lá chegando fui informado junto a outros apoiadores, que a pessoa que proferiu as ameaças já havia deixado o local.

O vereador de Campinas-SP, Paulo Bufalo (PSOL). Foto: Divulgação

Quando estava saindo para retornar à Câmara Municipal, acompanhado de duas lideranças que iriam até o Legislativo para protocolarem um documento de reivindicações junto ao presidente da Casa que estaria na Sessão Legislativa, da qual este vereador também participaria (e participou), fui abordado por uma pessoa, até então desconhecida e que, filmando a própria ação, proferiu várias ofensas e palavras de baixo calão, incorrendo em desacato de autoridade.

Essa pessoa, que depois soubemos tratar-se do filho do dono do imóvel, publicou um vídeo que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagens com várias informações falsas, incitando ódio e violência contra mim e à ocupação Maria Lucia Petit Vive!, dizendo que o veículo da Câmara Municipal foi utilizado na ocupação, que esta teria sido organizada por este vereador e que ele estaria transportando pessoas para a ocupação, o que não é verdade.

Com a viralização deste vídeo nas redes, vários setores da extrema direita passaram a rondar o imóvel ocupado e ameaçar o movimento de mulheres. Inclusive um vereador da extrema direita da cidade, Nelson Hossri, esteve no local com objetivo de intimidação das ocupantes e proferindo ameaças contra as mulheres.

Na sexta-feira, dia 5 de maio, o ex-deputado estadual cassado por incentivar o turismo sexual na Ucrânia, Artur do Val, também esteve no local, ameaçando e estimulando violência contra as mulheres. Esta ação foi acompanhada pelo vereador Hossri, que filmava tudo do outro lado da rua, como pode ser visto em suas redes sociais.

Essa conduta de incentivo ao ódio e violência se mostrou eficaz e tanto este vereador, quando lideranças do movimento passamos a ser alvo de graves ameaças, que inclusive já denunciadas ao Ministério Público.

A propriedade privada, segundo a Constituição Federal, deve cumprir um papel social, o que, evidentemente, não era o caso deste imóvel, que estava abandonado e oferecendo riscos à comunidade. A ocupação, batizada com o nome de “Maria Lucia Petit Vive!”, em justa homenagem a uma jovem militante torturada e assassinada pela ditadura civil-miliar, já colaborou para o aumento da segurança e a proteção da saúde pública na vizinhança, que demonstra apoio à iniciativa.

Como vereador agi de forma legítima em apoio ao movimento social, dentro de suas funções de parlamentar eleito pelo povo de Campinas. No cumprimento desta tarefa utilizei da estrutura e prerrogativas garantidas na lei e no livre exercício de meu mandato parlamentar. Não cometi qualquer crime ou quebra de decoro!

Tampouco reivindico para mim ou meu mandato qualquer protagonismo em relação à ocupação “Maria Lúcia Petit Vive!”. Trata-se de uma luta autônoma, legítima e necessária de um movimento organizado por mulheres.

De resto, tenho claro que essas iniciativas visando a cassação do meu mandato, bem como as tentativas de desacreditar um movimento legítimo é mais um episódio da perseguição a quem luta contra os interesses da especulação imobiliária e na defesa da construção de políticas públicas para atender a população em situação de vulnerabilidade. Não nos farão recuar. Sigo firme na luta das causas e princípios que tenho defendido nestes quatro mandatos conquistados nas urnas.

*Paulo Bufalo é professor de escola pública e vereador em Campinas-SP pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

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