2º ENCONTRO NACIONAL DA PRIMAVERA SOCIALISTA – PSOL
CONTRIBUIÇÃO DA PRIMAVERA – PARAÍBA
No calor pungente que cobre as catingueiras, xiquexiques e mandacarus reinam na beira das cercas e das estradas. Até o mais espinhoso dos mandacarus, carrega a flor que lhe coroa a cabeça, reinando grandioso acima da mata rasteira. Robustos e nem sempre resilientes aos ventos que sopram no sertão, resistem e expandem-se. Seguindo em desordenadas fileiras, ocupam o cariri, o brejo, põem-se soberanos no agreste, tomam as serras, o planalto da borborema, dominam as grandes campinas, transpassam pela zona da mata e finalmente repousam na maresia do litoral. Não competem com o reinado do sol, mas por ele, florescem e secam em comunhão aos xiquexiques e às palmas. Ardem juntos em fogo quando a seca castiga, mas renascem e frutificam junto às aroeiras, quando a garoa alivia a caatinga. Fazem-se assim, Paraíba. Por último, falemos das flores: As flores não falam. As flores não apenas falam, elas colorem, poetizam, manifestam e perfumam, anunciando a chegada da primavera. De fato, espinhos mesclam-se à beleza das rosas, espinhando os canteiros, mas não impedindo o contato das rosas, às mãos calejadas de quem as cuidam e com elas são presenteadas. Os espinhos diferem-as das flores-de-maio, que crescem trepando-se suavemente aos galhos solidários das árvores. Tanto as rosas quanto as flores-de maio são belas à sua forma, ocupando canteiros e galhos, mas compondo juntos, arranjos que preparam o jardim para a chegada do verão.
Mariana de Azevedo (militante da juventude).
- Conjuntura e tática
Iniciamos nossa contribuição ressaltando a importância do apoio à Lula desde o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, política muito acertada do nosso campo. Interpretamos que o movimento de campanha “PSOL com Lula” foi importante meio de inserção das nossas pautas políticas nas bases sociais, de modo a retirar o estigma do sectarismo, nos colocando como parte íntegra da reconstrução política do país após os sucessivos atentados à dignidade e direitos sociais do governo Bolsonaro ao povo brasileiro, o que pode ser provado pela nossa ampliação na câmara federal, com coeficientes significativos de votos: das 12 cadeiras ocupadas por nós, 5 delas compõem a lista dos 50 deputados mais bem votados do país, sendo o único partido de esquerda a eleger um deputado com votação superior a 1 milhão de votos.
Na nossa avaliação, até o momento o partido vem acertando e conseguindo dosar o apoio ao governo e as cobranças para efetivação do programa apresentado na campanha, o partido se destaca na luta contra o neofascismo. A participação das/os nossas/os parlamentares no Congresso Nacional têm garantido que a ultradireita não tenha voz sozinha: somos ponto importante de combate às suas políticas de retrocesso na esfera institucional. Enfrentamos com veemência e comprometimento ao nosso campo, momentos de conflito nacionais, a exemplo da proposição de proibição ao casamento homoafetivo no Brasil, onde fomos destaque em atuação; destacamos também, o papel do PSOL no revogaço.
Reconhecemos que há uma linha tênue entre apoiar o governo, diante a colisão que vem acontecendo, combater a direita e sermos taxativos na disputa para levar esse governo, de fato, à esquerda. Mesmo com as diversas dificuldades políticas, não estamos deixando de pautar o que a esquerda demanda e precisamos seguir assim, contudo, cabe destacar que a agenda do Congresso Nacional tem sido tomada pela agenda reacionária e o governo não tem pautado os reais interesses do povo brasileiro.
Ocupar os espaços de disputa, nas ruas e nas urnas é um caminho a ser seguido. Disputar a base da esquerda nos estados e municípios, reivindicar o programa que o partido apresentou para o governo, se propor a assumir o protagonismo nos municípios na busca por aproximação dos parceiros políticos (partidos e movimentos sociais) são ações que nos colocarão em evidência na luta e na disputa pelo governo.
Em relação às eleições de 2024, é urgente já nos mobilizarmos e apresentarmos nossos nomes nos municípios, seja para cargos majoritários ou proporcionais, destacando critérios para estabelecermos prioridades. A Coordenação Nacional da Primavera tem o papel de auxiliar e acompanhar essas movimentações nos estados. É hora de priorizarmos nossas figuras públicas, assumindo mais as candidaturas e menos as direções do partido, fazer com que possamos colher nas urnas, a nossa política acertada que tem feito crescer o número de parlamentares eleitas/os pelo PSOL, onde infelizmente, o nosso agrupamento não tem alcançado tal retorno.
Para finalizar os termos de conjuntura, ressaltamos a importância de posicionamentos internos que dizem respeito à política exterior. Estivemos inclusos no apoio às políticas internacionais de repatriação dos brasileiros prisioneiros em Gaza, desempenhadas pelo governo federal. É característica notória de avanço nesses termos e é de profunda necessidade que o PSOL não se feche ao debate da crise humanitária externa: não podemos estar escusos das posições internacionais.
Atividades e ações puxadas por nós institucionalmente, ou que tiveram/tenham de algum modo suporte da nossa militância nas bases, são fundamentais para o nosso avanço enquanto força participativa nos assuntos de comoção mundial. Pensar o socialismo em caráter de democracia-popular inclui a luta pela defesa da dignidade e soberania do sul do mundo, contra todas as incisões imperialistas no mundo contemporâneo e na construção de uma perspectiva decolonial. Isso também diz respeito ao enfrentamento à extrema-direita em sua face neonazista/neofascista, que respinga profundamente no Brasil, de modo brevemente mais desorganizado mas que não deixa de ganhar corpo nas parcelas mais suscetíveis ao reacionarismo.
Outro acerto nosso, trata-se do envio de delegação à Argentina no recente processo de eleições presidenciais, não necessariamente em suporte à Sérgio Massa, mas primordialmente, contra o retrocesso na América Latina que a eleição de Javier Milei representa. Trata-se de ato solidário, isto é fato, mas também contribui para nossa inserção de forma mais íntima nas políticas latinoamericanas: nos põe em notoriedade no cenário de combate à ultra-direita, não apenas no Brasil.
Diante disso, analisa-se a necessidade de usufruir do posicionamento e organização das setoriais partidárias, de modo a ampliarmos a nossa inserção em outros movimentos internacionais, debatendo territorialidade, gênero, classe, sexualidade e racialidade em espaços exteriores e pautando nossa concepção de Brasil: é no PSOL que as lutas se encontram. Com a devida organização, temos total capacidade de nos pautar internacionalmente no movimento de mulheres, LGBT, Juventude, Negritude, dentre outros que nos alcançam constantemente em cenário nacional.
- PSOL
O PSOL é o partido que mais filiou no último período. Esse dado é relevante para nossa análise: Crescemos em números, no eleitorado, nas redes e nas mídias. Nosso partido tem assumido, com destreza, a tarefa de pólo aglutinador de novas/os lutadoras/es, contudo, ainda estamos um pouco distante de alcançarmos amplamente as periferias das grandes cidades, mais intensamente os movimentos sociais e a zona rural. Destacamos que falta ainda uma visão ampliada de Brasil, para que o PSOL se torne um partido, de fato, nacional. Falta Nordeste e desenvolvimento nacional.
Destacamos a importância e a necessidade de operacionalizarmos uma Articulação do semi-árido do país, defendemos fortemente a criação de um Encontro do PSOL Nordeste para ampliarmos os diálogos, conhecimento e compreensão, também dessa região. Outra questão relevante é dar mais visibilidade, relevância e fortalecimento para as setoriais nacionais e estaduais. È preciso também destacar o debate da questão racial, sobretudo por ser estruturante da luta de classes no Brasil. A correlação de força interna no PSOL nos possibilita aprovar e efetivar essas políticas propostas acima, bem como, nos possibilita estabelecer uma relação com o PSOL de Todas as Lutas, de forma pragmática e não mais de nos submetermos às demandas deles, por vezes apresentadas inclusive em forma de chantagem. É momento de construir a partir das nossas compreensões e políticas, sem desrespeitá-los, mas nos impondo. Em relação à minoria, é prudente e assertivo tratá-los como minoria, dentro e fora do PSOL.
- Primavera Socialista
No geral, tivemos mais avanços que limitações e o resultado do 8° congresso nacional é prova desse nosso avanço em termos numéricos e, sobretudo, da política que desenvolvemos à frente do PSOL nos últimos anos. Acertamos em construir o campo PSOL popular junto com a Revolução Solidária (RS) e escrevermos tese conjunto para o congresso foi muito positivo. As limitações aconteceram por impossibilidade da conjuntura, mas, também, por erro nosso.
A conjuntura interna do PSOL nos fez recuar em algumas políticas por conta dos nossos aliados, como por exemplo, compor o governo Lula assumindo cargos, política que não conseguimos aprovar nas instâncias do partido nacionalmente. Temos problemas organizacionais em alguns estados, bem como, ainda não conseguimos priorizar o fortalecimento das setoriais na PS. Não podemos continuar tratando as setoriais como pautas identitárias, sobretudo, mulheres, negritude, LGBTQIAPN+. Mesmo a de mulheres, que já está mais alinhada que as demais, carece de uma política encampada pelo agrupamento de forma geral. É urgente pensarmos na estruturação da setorial e do debate ecossocialista. Precisamos unir forças para desmantelar as estruturas que perpetuam a violência contra as mulheres em todos os âmbitos, especialmente a violência politica.
Vale ressaltar que estamos nos reportando a construção das setoriais internas da PS, mas na perspectiva de fortalecimento das setoriais no PSOL. Aqui entra um debate que é essencial para definirmos o rumo da PS: Ter ou não fusão com a Revolução Solidária? Bem, a experiência no 8° congresso nos ajuda a compreender essa movimentação. Na nossa perspectiva, ela é necessária, mas não urgente e também exige prudência, apesar de termos mais consensos que dissensos. Podemos continuar essa construção a partir de parâmetros estabelecidos entre as direções nacionais dos dois agrupamentos e irmos construindo acordos de funcionamento, metodologia, estratégias e táticas em um tempo estabelecido, que pode ter como prazo cabível, o fim do processo eleitoral de 2024.
Na nossa perspectiva há muito que ajustar nessa caminhada, inclusive, precisamos refletir sobre a política mais geral, mas também, sobre os “amiúdes” da política interna no PSOL e para fora nas articulações sociais, nos diversos âmbitos. Temos como avançar muito politicamente no PSOL e, consequentemente, na esquerda socialista de perspectiva democrática-popular.